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Águas do Iguaçu

Diante de nossos olhos seca o Rio Iguaçu, mas estão todos ocupados demais. Trabalham demais, consumem demais, vêem TV demais. Quem tem tempo pra esse negócio de rio?

Para ir de Porto Amazonas à São Mateus do Sul, seu Raul não pensa duas vezes. Vai de barco, mas não sem a companhia do seu camarada, o Zé. “Bem melhor que de carro. A gente vai no ritmo da prosa, da pesca, vendo as árvores”, argumenta Raul. O Zé acena com a cabeça, mas lembra o amigo que antes iam de barco, hoje tem que ser de bote a remo.

– De primeiro o rio era bem largo e fundo. Não judiado como tá agora, quase sem água. Tem lugar aí que o bote fica enroscado.

– Lembra de criança Zé, brincadeira era tudo nesse rio aí. Até competia pra ver quem tomava mais banho. Hoje se pula, racha a cabeça.





Raul Scarante está com 56, seu amigo José Gonçalves já chegou aos 65. Se conhecem desde criança. Para esses dois, que nasceram em Porto Amazonas - marco zero da navegação pluvial do rio - o tal Iguaçu é mais que rio, é parente da família.

O Rio Iguaçu é o próprio motivo para que se erguesse ali, no umbigo do Paraná, o pequeno município de Porto Amazonas. Daquele glamour dos anos 50 sobrou nostalgia, e um ar decadente próprio da contemporaneidade. O curioso prédio da prefeitura, em forma de barco, exalta o que desaparece diante dos olhos de seus cidadãos: O rio.

Assim que Raul e Zé perceberam que alguma coisa estava errada, começaram a tratar do irmão. Cultivam e plantam dezenas de mudas nativas nas margens. Lutam contra o assoriamento, mas repor mata ciliar é pouco diante da situação. A drenagem dos terrenos alagados, próximos ou não do rio, eliminou um importante mecanismo para manutenção do nível e curso das águas durante períodos de estiagem: a várzea.

Sem aqueles veios d'água que brotavam ao longo de todo o rio, hoje quando chove o nível sobe e desce, de forma rápida e sem aviso. A água que desce arranca as árvores mais jovens da mata ciliar, como as que Raul e José plantam. Ao longo das margens assoriadas, dezenas de raizes viradas dão mais dramaticidade ao desaparecimento do rio.

– A gente fica triste, preocupado mesmo em ver o rio assim. É como se avisasse que tá morrendo, como se chorasse umas lágrima amarga, de dor mesmo, diz Raul.

Para mostrar que é verdade, Raul e José nos levam num passeio em sua balsa. O nível d’água é tão baixo que da margem do cais – o tal marco zero da navegação fluvial do Rio Iguaçu – não é possível ver a embarcação. “Será que a balsa não tá aí”, brinca Raul. Descemos uma trilha até encontrar o ralo nível da água. Vara de pesca em punho, um homem atravessa para o outro lado. Não molha além da cintura.


– Boa coisa ser uma balsa, aí não precisa muita água. Dá pra navega com até 60 cm de profundidade. Menos enrosca o leme.

O barco Novo Horizonte é uma balsa, com 20 lugares bastante confortáveis. Raul a construiu com as próprias mãos. Usa a balsa para desvendar as entranhas do Rio Iguaçu. Mostra aos outros o rio que vê com seus olhos, afeto e preocupação.

O passeio se limita às redondezas do cais. Dez minutos rio abaixo e chega-se a um ponto intransitável. Lastimável, para os dois que cresceram vendo grandes balsas levarem erva-mate rio abaixo. A planta era vendida em cidades como São Mateus do Sul, União da Vitória. Depois seguia até Antônina. Dos tempos áureos, resta apenas a memória de uma foto na cabine.


Aventuras de Salad Boy na ONU

- Foi mal, mas tenho que ir...

Sempre me senti bem entre os verdes. Quando soube que ambientalistas do mundo todo estariam em Curitiba não tive dúvida. Pedi demissão do jornal onde trabalhava e bati nas portas do Expotrade Pinhais. Queria trabalhar na ONU e, óbvio, estava disposto a começar de baixo. Acabei literalmente entre folhas de alface.


Tudo bem. Eu seria até engraxate se alguém da ONU me contratasse. Meu primeiro dia foi num domingo, antes mesmo da abertura oficial do evento. Pra começar estava bom... Durante três semanas, passei de jornalista promissor a garoto da salada, ou como os gringos me chamavam, Salad Boy.

O Balconista

- Hey! Salad boy! Is there any meat in this? Don´t try to mess with me. I am vegetarian, you know!

O jamaicano era grande e estava irritado. Pensava que o chef do nosso bistrô tinha tirado o presunto de uma das saladas que estavam prontas no mostruário para servi-lo, ao invés de preparar uma nova, full vegetarian, como pediu o cliente.

A boina enorme e colorida, os longos dreads e seus quase dois metros de altura assustavam. Sua cabeça parecia ainda maior do que era, dando um ar assustador ao sujeito enquanto ele reclamava, bastante irritado.

Minha função? Acalmar o cara, reclamar com o chef e tocar o bistrô das saladas do COP8/MOP3, o tal evento ambientalista da ONU.

Mas afinal, que raios foi esse tal de COP/MOP? Tirando quem participou, e alguns poucos interessados, a maior parte do público assistiu de longe, sem compreender a feira da ONU que lotou os hotéis de Curitiba de gringos. Um porteiro comentou comigo que nunca tinha visto coisa igual.

- Nunca vi nada igual. Tá ‘té faltando vaga pros artista do Festival de Teatro.

Trocando em miúdos

A sigla COP significa Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). Este era o evento principal. Já o MOP é uma conferência paralela que trata exclusivamente da certificação de cargas transgênicas para exportação. Ao todo, durante os dois eventos, passaram por Curitiba mais de 5 mil pessoas, vindas de 175 países.

Ambas conferências operam na forma de plenárias gigantes, com assuntos subdivididos em grupos de trabalho. O lugar onde os debates ocorreram parecia surreal. Cortinas de veludo escuro, com mais de 5 metros de altura, estendiam-se até o cão. Centenas de cadeiras, a maioria equipada com microfones para as “partes” debaterem. Em meio a tudo isso, centenas de pessoas com seus aparelhos de tradução simultânea a tiracolo.



Aquilo tudo só me remetia à mente uma idéia: o Senado Galáctico de Star Wars.

Era tanta pompa que teve gente que até esqueceu o que estava em jogo ali: a terra, a água e o ar.

Os ambientalistas tentavam discutir medidas para frear o consumo. Desenvolvimento sustentável, repetiam 90% deles, como um mantra. Mas os capitalistas nem os ouviam. Para as indústrias, o COP é um campo de batalha, onde podem disputar palmo a palmo as suas áreas de influência no globo.

No round de Curitiba, os capitalistas perderam a influência Nova Zelândia (que saiu tachada como a grande vilã da última edição), mas ganharam os corações e mentes da Austrália. Foi um empate técnico. Muita gente saiu frustrada.

- Se fosse por votação nós já tínhamos imposto um monte de dificuldades para estes malditos testes com Sementes Terminator (a última palavra em transgenia), mas como as decisões só podem ser aprovadas por consenso de todas as partes, isso é quase impossível. Sempre tem alguém que passa para o lado negro da força!


Volta pra casa

Para o Brasil, realizar o COP/MOP teve um gostinho de “volta pra casa, outra vez....” Fomos nós, tupiniquins, quem começamos o debate ambiental na ONU. A Convenção Rio-92 foi o embrião para o surgimento da Convenção sobre Diversidade Biológica. Muita gente se reencontrou, 14 anos depois.

- Cara, eu trabalhei, como você, na Rio-92. Aquilo foi um marco pra mim.

O homem, 35 anos, bem apanhado, disse que largou a faculdade de Direito e foi fazer Biologia. Hoje trabalha em Brasília para o Ministério do Meio Ambiente. Estava com crachá verde, de Partes, que equivalia a ser muito V.I.P. Me olhou com cara de pouco sono e disse que tinha mais um monte de coisas pra ler ainda. Mostrou o maço de xérox na mão.

Nos despedimos e ele saiu caminhado.

Em baixo do seu braço ia o texto – ainda sem revisões – que a ministra Marina Silva apresentaria na Plenária da CBD, na abertura do segundo evento dos dois eventos. Era a proposta brasileira que direcionou todos os debates do COP. Que responsa, hein?


Rotina no Bistrô

Uma vez que consegui ficar entre os verdes, comecei a fazer de tudo para acompanhar o evento, ou melhor, os Side Events. Meu único problema era driblar o turno sobre-humano que eu cumpria no bistrô. Assim, qualquer coisa era motivo para minha máquina fotográfica e eu abandonarmos o posto. Chegou mais alface? Deixa que eu recebo!

E lá ia eu fazer o caminho mais longo entre o bistrô e o estacionamento. Sempre dava um jeito de passar nos Side Events – sem dúvida a melhor parte do COP MOP. Era um tal de gente do mundo todo compartilhando experiências e idéias. Povos nativos, indígenas, agentes da ONU e ambientalistas de organizações não-governamentais.

Trabalhar no bistrô teve suas vantagens. Com um crachá de funcionário do Expotrade dava para abrir quase qualquer porta. Era possível passar pelo setor administrativo, seguir à área internacional e até nas instalações onde funcionou o Ministério do Meio Ambiente brasileiro, que tinha uma segurança altíssima.

Tarde quente

No final da MOP, quando deveria se decidir de uma vez por todas se as cargas transgênicas seriam ou não certificadas, o clima na plenária esquentou. Ambientalistas e industriais bateram boca. O movimento era pouco e decidi espiar. Quando entrei na plenária o tumulto estava formado. Subi numa cadeira e disparei flash em cima deles.


Quando voltava para meu posto senti alguém me puxando pelo braço. Era Helena, uma inglesa alta, cabelos loiros quase brancos, que participava representando uma ONG. Ela queria uma cópia das fotos.

Seus amigos achavam que seria possível identificar alguns figurões das indústrias de fertilizantes e insumos agrícolas – palavras bonitas para veneno – nas imagens. Não sei se isso aconteceu, já que perdi contato com Helena, mas espero que sim.

Ponto para o Salad Boy!


Praça da Lamentação

Nem tudo era flores orgânicas no bistrô da salada. Uma crítica de poucas linhas, publicada num eminente jornal local, acabou com o bom humor do dono do bistrô. Dizia a coluna que nossos preços eram abusivos. “Quatro folhas de alface, que a terra dá, e uma fatia de presunto por R$ 15,00?????”.


A crítica repercutiu e na última semana do evento cobrávamos R$ 10,00 pelo mesmo prato.

A verdade é que, uma vez que o evento seria internacional – o local da plenária foi inclusive considerado território da ONU entre 13 e 31 de março, sendo preciso passar pela Polícia Federal para entrar -, os homens de negócios resolveram internacionalizar seus preços. “A COP parece um shopping”, comentou com ironia um professor italiano.

Mas o tiro saiu pela culatra. A parte comercial do evento, que consistia em praça de alimentação e feira aberta ao público, foi a menos procurada. As vendas ficaram abaixo do esperado. A grande maioria dos gringos verdes preferiu usar os serviços de pequenos comerciantes, que aproveitavam o pátio do Expotrade para movimentar feiras paralelas.
A praça da alimentação virou uma verdadeira praça da lamentação.

Sean, o cara!

O canadense Sean Southey chegou a Curitiba com uma missão. Funcionário da ONU, em Nova Iorque, o canadense coordena o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Em Curitiba, ele ficou responsável pela Iniciativa do Equador, que criou o espaço mais democrático do evento, a Taba Community.


- As diretrizes ambientais do mundo estão sendo construídas lá dentro (na Plenária). Aqui fora (na Taba), nosso papel é resgatar a mágica dos povos nativos e sua sabedoria com a Mãe-Terra.

Na Comunidade Taba, representantes de povos indígenas de países tão distintos como Peru e Rússia trocaram experiências e traçaram estratégias para a Plenária Final. Também havia agricultores familiares e bichos-grilo. Durante o dia, palestras e troca de experiências. À noite, festas e integração social entre políticos, índios e ambientalistas.

Desde que conheci os voluntários da UNDP (United Nations Development Program), era lá que eu queria estar. Eles promoveram – sem qualquer sombra de dúvida – os melhores eventos paralelos (side events) e confraternizações.



Até que Salad Boy marcou pontos novamente.

Duas das minhas fotos foram publicadas no site da United Nations Development Program e nos materiais impressos da Taba Community. Thanks Sean!

O tal do vulgo

Faltou até agora explicar como é que começou esse negócio de Salad Boy. A alcunha pegou rápido. Um pouco porque eu era simpático com todo mundo e um pouco porque eu era intrometido mesmo.

O nick me foi dado por um negro baixinho, gorducho e careca. Foi um dos primeiros a chegar ao Expotrade, antes mesmo da abertura oficial dos dois eventos. Todos os chamavam de Sam. Se vocês acham que eu falo muito ainda não conheceram o Sam...

Conversamos muito, sobre projetos, perspectivas... Foi ele quem me manteve informadpo sobre os debates do MOP, o primeiro dos dois eventos.

Aí surpresa. Já no finalzinho do COP fui descobrir que o tal Sam, aquele tiozinho bom de conversa, era ministro de Meio Ambiente da Namíbia. Quem diria? Tenho certeza que o cargo está em boas mãos.

Foi o próprio Sam quem conduziu algumas das plenárias mais difíceis do COP, as últimas, quando era preciso chegar a definições sobre o que foi discutido. Coube a ele a difícil tarefa de mediar os interesses das grandes indústrias e dos ambientalistas radicais.

Início do FIM

Numa manhã, penúltimo dia de trabalho no bistrô, atendi um francês. Estava exausto, a paciência no limite. Queria um suco energético. Qualquer suco energético, mas de preferência o de açaí com guaraná. Passara a noite anterior inteira em claro, estudando propostas para o documento que seria ratificando na conferência.

Sua irritação vinha das sucessivas derrotas que o grupo dos ambientalistas estava sofrendo na plenária. Diversas decisões consideradas vitais, almejadas por países tão distantes como Brasil, Malásia e Namíbia, caíram por terra diante do lobby das multinacionais.

- Durante três semanas apresentamos uma série de avanços para as diretrizes políticas que regem o meio ambiente... Para quê? Para nada. Pra ver esses caras empurrarem as decisòem com a barriga. Isso está me deixando louco.

As frases saiam de sua boca de um jeito rude, como que vomitadas em inglês. O acento francês era bastante carregado, denunciava uma auto afirmação de identidade, quase uma intolerância ao modo de pensar americano.

Todas as decisões significativas do COP8/MOP3, de fato, ficaram para ser analisadas novamente em 2010, como se o mundo pudesse esperar.

Um tapinha não dói

Stephanes Junior não gostou nada do vídeo divulgado no site You Tube em que aparece levando tabefes do secretário Estadual de Educação Maurício Requião ao som de funk. Ameaçou processar ninguém menos que o irmão caçula do governador. O vídeo foi a gota d’água da enxurrada de provocações feitas por Maurício Requião, que insistia na punição de Stephanes, mesmo depois da turma acender o cachimbo da paz peemedebista.



Depois Stephanes recuou. Mesmo sendo filho de ministro do presidente Lula. A briga dos dois começou depois que Stephanes votou com a Oposição na Assembléia exigindo a convocação do secretário de Comunicação Social, Airton Pisseti. Também pudera. Está difícil para os deputados votarem com o governo. A série de escândalos envolvendo o Governo Requião são evidentes, difíceis de negar.

Romanelli, por exemplo, ficou sem palavras quando foi questionado por jornalistas a respeito da prestação de contas do primeiro quadrimestre do ano. Saiu mal na foto. Literalmente. Com cara de bobo e uma baita legenda: “Líder do governo Luiz Cláudio Romanelli disse não saber nada sobre audiência”.

O destempero de Maurício Requião no caso Stephanes não surpreende diante da forma como vem conduzindo a Secretaria de Educação. Diante dos repórteres, sempre bem humorado e com dezenas de números sobre os programas em desenvolvimento. Exemplo, as televisões alaranjadas com entrada USB.

– Uma para cada sala de aula, explicou Maurício, na escolinha do irmão.

Na prática, o atendimento deixa a desejar. Principalmente no interior, onde estão concentradas as estatísticas de trabalho infantil recém divulgadas no estudo inédito do Ipardes. A coisa está pra lá de preta, garante Geraldo Serathiuk, da Delegacia Regional do Trabalho. Faltam vagas na escola, sobram crianças na lavoura. Muitas vezes simplesmente não há vagas.

No Distrito de Catanduvas do Sul, localidade incrustada entre Araucária e Contenda, o Governo do Estado não é capaz de atender o crescimento da demanda. Este ano, a escola matriculou mais ou menos 240 crianças, umas 80 a mais que no ano anterior. Ficaram sem sala de aula, claro.

Também foi formada a primeira turma de ensino médio, mas já há demanda para turmas de 2º anos também, garante a diretora. As dependências da pequena Escola Municipal Nossa Senhora das Graças ficaram pequenas para abrigar o ensino do estado. Sim, a escola é do município. Mal tem espaço para os alunos, que dizer de biblioteca, computadores e das tão comentadas televisões laranjas com entrada USB.

Dilema posto, solução de pároco. Duas turmas de alunos da Escola Estadual Doutor Adhelmar Sicuro foram transferidas para o velho Seminário Vicentino de Catanduvas, cedido de bom coração, é verdade, mas infra-estrutura, nem energia elétrica nem fornecimento de água. Os educadores sonham com dias melhores. Reformar o espaço, reativar a vocação letiva do prédio onde jovens um dia estudaram latim e teologia.


Duas turmas assistem aula provisoriamente no Seminário Vicentino

MV Bill e os guris do tráfico

Depois do lançamento explosivo do documentário “Falcão – Meninos do Tráfico”, que retrata o cotidiano de meninos e meninas em favelas de todo o país, o rapper carioca MV Bill viaja agora por todo o país para promover uma reflexão sobre a marginalização.

O rapper passou sete anos desenvolvendo o projeto

O próprio MV Bill é prova de que a periferia tem muito a contribuir para este diálogo. Garoto pobre da Cidade de Deus, Bill cresceu no meio dos soldados do morro, mas seguiu o caminho dos palcos. Como rapper, ganhou fama com um clipe polêmico – Soldado do Morro - em que aparecem traficantes de verdade.

Bill conta que foi nessa época que ele começou a matutar o que viria a ser Falcão – Meninos do Tráfico. “Quando a gente parava de filmar, nos intervalos, eles largavam as armas e viravam gente de novo. Falavam de mulher, futebol, dos seus sonhos. Aí começou essa idéia de ir além do crime, mostrar quem eram essas pessoas”.

***


Em Curitiba, um dia depois do filme de MV Bill e Celso Athayde estrear no Fantástico, o garoto L., de 10 anos, foi detido enquanto oferecia buchas de maconha a dois transeuntes na Vila São Francisco. Os rapazes eram na verdade policiais à paisana. Depois de deter o menino, os policiais revistaram a casa.

Encontraram um tijolo de aproximadamente 750 gramas sob uma tábua solta do assoalho. A mãe do moleque, Erisvalda S. F., de 26 anos, foi autuada em flagrante por tráfico de drogas e aguarda julgamento na cadeia feminina de Quatro Barras.

L e o irmão foram encaminhados ao Conselho Tutelar e hoje vivem num orfanato.

***

Quando o repórter da Gazeta pergunta a Bill sobre as favelas de Curitiba, ele abre um sorriso e fala com propriedade. E não apenas sobre a Vila Pinto, famosa porque fica há menos de 4 km do Centro da capital, MV comenta também sobre a realidade enfrentada nas favelas da Região Metropolitana, como em Araucária e Pinhais.

“A primeira vez que eu vi favela em Curitiba eu tinha vindo para um show. Na época a gente ouvia falar muito bem da cidade na televisão. Tinha até uma novela aqui. Eu fiz um show com uma banda de reggae, aí perguntei pra eles se tinha favela. Eles me levaram na Vila Pinto”.

Depois MV Bill foi percebendo que as favelas são fenômenos comum em todo o país, e não apenas das capitais, mas também das cidades de médio e grande porte.


MV Bill, encurralado pelos repórteres do asfalto

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Como todo mundo, L. também ficou pasmo quando viu o documentário. As imagens que mais o incomodaram eram as de velório. Ele mesmo já tinha visto uns velórios lá na vila, como se refere à invasão irregular do São Francisco. Mas aquilo só podia ser coisa do Rio de Janeiro.

Com ele não bem assim. L. só vendia umas buchinhas de maconha perto de casa. Via a coisa mais como um trabalho, pra zelar pela mãe e pelo irmão menor, enquanto o pai “puxa cadeia”. O rapper explica que esse tipo de situação é a regra. “Essas crianças, a maioria cresce sem figura paterna”, diz.

Genocídio infantil

No documentário Falcão, apenas um garoto sobrevive. “Os personagens que dão fio condutor à história, eles morreram em um espaço de dois anos”, lembra o rappear. O menino que sobreviveu hoje trabalha em um circo e hoje viaja pelo país. Deixou para trás o tráfico e as drogas.

Os outros, tombaram um a um na vida incerta do crime. “A vida deles é isso. Crescem sem nada. Morrem com 15, 16 anos. Deixam mulher grávida, às vezes filho pequeno. E a história se repete. Falta oportunidade. Em vez de exército, deviam entrar na favela um pelotão de professores”.


Bill com este repórter que vos escreve.

O Grande Big

Jonas de Castro Deus, mais conhecido como Big Jonas, músico profissional registrado na OMB, atuou por mais de duas décadas em festas e bailes da capital paranaense. Desde os anos 60, quando trabalhou como guitarrista e cantor do conjunto Condor Boys ou como baixista, tecladista e crooner do Grupo Megatons.

Realizou diversas parceiras com grandes nomes da agitada cena cultural de Curitiba dos anos 60 e 70. Conviveu com pessoas como Celso Piratta, Dartagnan, Tatara, Lápis, Paulo Chaves e Ivo do Blindagem, entre tantos outros. Frequentou rodas com o próprio Leminski e soube impôr seu estilo.


A parceria com Tatara rendeu diversos shows nos teatros Paiol e da Reitoria, onde batalhou para divulgar seu trabalho como compositor. Ganhou diversos prêmios em festivas e como melhor crooner de conjuntos de baile. Viajaram pelo interior promovendo shows para divulgar a obra do músico e compositor Lápis, depois de sua morte.

A Virada

Casado e com dois filhos pequenos para criar, deu uma virada em sua vida a partir de 1986, quando deixou o cargo de professor do curso de engenhria florestal da UFPR - onde também se graduou em 1982 - e assumiu de uma vez por todas a sua carreira de músico especializado em festas particulares como formaturas, aniversários e principalmente casamentos.

Com o advento da tecnologia e com a musicalidade já amadurecida, viu por bem aliar seus conhecimentos como engenheiro formado pela UFPR aos novos equipamentos como teclados sampleados, buscando assim um caminho para a evolução musical, com um número menor de executantes porém com a mesma qualidade.

Dá para se dizer que foi o primeiro "one man band" na região sul e um dos primeiros que se têm notícia a animar festas com até 1.500 pessoas. Com esse sistema de trabalho, animou com seu carisma e jeito irreverente inúmeros eventos em todo o estado do Paraná, diversas cidades dos estados vizinhos, algumas no nordeste e até no exterior com apresentações em Nova Iorque, Buenos Aires, Assunção, Londres, Bruxelas e Paris.

A partir de 1994, com o crescimento na mídia mundial das vozes femininas, resolveu oferecer também a opção de cantora, estendendo a possibilidade deste duo compor uma banda com saxofone, guitarra, percursão, e outros instrumentos.

Em 1997 embarcou na onda da recém-chegada internet, trabalhando como um dos organizadores do projeto "Música Sem Fronteiras". A proposta - inédita no mundo - reuniu mais de cinco dezenas de músicos do Brasil e do exterior na realização de um CD produzido totalmente de forma virtual e online.

Entre tantas histórias que envolvem as 19 faixas, a mais marcante talvez seja a da música que tem um coral gravado em Minas Gerais, arranjo produzifo em Portugal e masterização feita em Curitiba... Isso na época da internet discada.

Como a maioria dos grandes astros, o grande Big Jonas partiu dessa vida no auge, com apenas 54 anos,para tocar ao lado de seus grandes idolos... Elvis Presley, Louis Armostrong e outros tantos.

Luto

Nascido em 8.11.1952, em Curitiba - PR. Morreu na madrugada da última
terça-feira, dia 28.11.2006. Deixa esposa, dois filhos, noras e a netinha que tanto desejava.

Pai, nós te amamos muito! Você sempre viverá em nós!

Homenagem de um amigo



Parece que foi ontem, mas na realidade foi há um mês atrás mais ou menos.

Saindo da aula de tênis, lá no Clube Duque de Caxias, encontrei o meu amigo.

Bravo, o coxa tinha perdido mais uma, e a crítica feroz era contra o pangaré do Jackson.

Com toda tranquilidade falávamos de futebol e logo caímos no assunto de sua saúde. Já naquele dia senti que não andava boa! Depois das complicações do coração, algo de ruim encontrava-se em seu corpo.....

Disse que precisava ainda perder mais uns quilos para fazer a cirurgia, da qual o médico lhe avisara do risco.

Estava então andando diariamente para perder os quilos necessários.

Foi nossa última conversa, das tantas que tivemos lá no Clube e durante a nossa convivência.

Ontem, ao encontrar o meu Amigo Nelson Zagonel, soube da notícia.

Fiquei triste.......

Naquele momento, lembrar de nosso último encontro e de que poderia ter passado o dia conversando com ele, lembrando e falando mal do governo, do futebol, das música, etc, fiquei comovido.

Alguém que alegrou os momentos de tantas pessoas, com seus verdadeiros shows musicais, não mais poderia nos brindar com os sons emanados de seu teclado e das outras maquinações que ele fazia com o computador.....

Lembro ainda, de tantos quantos participei nesta cidade, de suas ambientações musicais no Conselho Regional de Administração no final do ano passado, em que jantamos juntos, nos 50 anos da Linda e do Renato lá no Dom Antonio, e, puxa nem sei quantas vezes, e lá vinha ele com a frase " esta vai pro meu amigo Krüger" !!!

E lá no cursinho Dom Bosco da Vicente Machado, preparando-se para o vestibular, convivemos mais um pedaço de vida com ele (Coelho, Rogério, Nelson, Bode lembram bem....). Bons tempos.

Meus amigos e amigas, me senti na obrigação de escrever isto, pois tenho certeza que todos vocês, de alguma forma, gostariam de dizer algo parecido, cada um com sua vivência com ele, lembrando da pessoa especial que ele é.

Obrigado pela oportunidade e digo JONAS DE CASTRO DEUS, que ELE lhe abençoe e ilumine!

Falando em música, JONAS, uma nota bem alta para você!!!

Paulo Krüger

Zuenir Ventura no Mafalda

Autor e personagem se encontram. Zuenir Ventura veio à capital do Paraná em abril, falar de jornalismo e literatura. Acabou reencontrando Genésio Natividade, velho amigo lá dos tempos de Acre, quando Zuenir reunia material para a reportagem sobre o líder dos povos da floresta.

A série O Acre de Chico Mendes, publicada pelo Jornal do Brasil, rendeu ao autor os prêmios Esso de Jornalismo e Vladimir Herzog de Reportagem. Em 2003, a série foi relançada no livro Chico Mendes: crime e castigo, acompanhada de uma releitura do Estado do Acre 15 anos depois da morte do líder seringueiro.

***

– Meu Deus como se come aqui!

Foi sincera a exclamação do escritor Zuenir Ventura diante do prato que lhe trouxeram para o jantar. Estava no Café Mafalda, depois de uma palestra para estudantes da UniBrasil. Ieda caprichara no mignon ao molho de mostarda acompanhado de pasta. Parecia excepcionalmente delicioso. A refeição, claro, degustada com um bom vinho tinto. Contava histórias de um outro tempo, histórias de repórter.


***

Ávido por notícias do caso Chico Mendes, desembarca em Rio Branco, capital do Acre, o jornalista Zuenir Ventura. Corria o ano de 1989. Como bom repórter que é, queria ação. Estava ansioso para chegar a pequena Xapuri, município 180 km distante da capital e palco da saga do líder seringueiro. Foi aí que conheceu Genésio, o advogado de Chico Mendes. Ele lhe arrumou uma carona. Partiram no dia seguinte, cruzando a estrada de terra que divide a floresta.

– Esse aí era o único advogado em quem Chico Mendes confiava, lembra o escritor.

O paranaense Genésio partiu para o Acre alguns anos depois de se formar em Direito. Tinha alguma experiência com a questão da terra. Defendia principalmente pequenos produtores, assediados por grileiros e empresários do agronegócio.

Quando soube que os seringueiros estavam se organizando e precisavam de alguém para defendê-los, não hesitou em deixar tudo para trás. "Queria muito conhecer a amazônia". Foi assim que ele, um rapazote metido nessa coisa de meio ambiente, conheceu Chico Mendes, o maior líder dos povos da floresta – silenciado por tiros na noite de 22 de dezembro de 1988.

Na pista dos assassinos, fonte e repórter tornaram-se amigos.

***

Ao mesmo tempo, na mesa, a conversa corria solta. Depois da palestra que deu ao lado do escritor paranaense Miguel Sanches – os dois falaram a acadêmicos de Letras – , os olhos de Zuenir brlhavam conforme se lembrava do trabalho no Acre. "Sabe, só tenho uma foto daquela época. Eu tomando sorvete na praça, em Xapuri". E volta ao caso.

– Aquilo lá era uma loucura.

Em 1988, numa terra praticamente sem lei – literalmente, já que a Comarca de Xapuri chegou a ficar 12 anos sem juiz, Genésio chegou para defender a causa seringueira. Desafiava os donos de latifúndios, gente que aproveitava a especulação fundiária para avançar floresta adentro.

– Ninguém do Acre aceitava trabalhar pra eles, lembra o advogado (à esquerda na foto abaixo).

“Fui lá cutucar onça de vara curta”, diz com o sorriso característico. O jeito caboclo denuncia a origem simples e interiorana do advogado - hoje secretário do Meio Ambiente de Araucária.

O jornalista chegou depois, enviado pelo Jornal do Brasil. A morte do líder seringueiro ecoou no mundo todo. Até o New York Times deu a história. De repente, Xapurí virou umbigo do mundo.

No jantar, Zuenir lembra como ficou encantado com aquela cidadezinha encravada no meio da floresta. “Meus amigos no Rio de Janeiro tiram sarro quando eu digo isso, mas Xapuri tem um charme único”. E isso dito por alguém viajado. Conversaram sobre o calor e Zuenir lembra da vez em que tinha uma aranha dentro do tênis.

– Tentei vestir. Achei que era o cadarço. Sei lá por que. Só na terceira tentativa vi que tinha alguma coisa errada. Fui olhar dentro e era uma baita caranguejeira. Fiquei apavorado. Morro de medo de aranha. Eu ali, petrificado, mas graças a Deus o neném da casa matou o bicho.

Foi Genésio, o advogado, quem apresentou o jornalista a testemunha chave do caso Chico Mendes: Genésio Ferreira da Silva, o menino que viu tudo.

– Se não contarem direito essa história lá no exterior é bem capaz dos gringos acharem que, no Brasil, para cada Chico há dois Genésios. E olha que coisa interessante, porque antes disso eu nunca tinha conhecido sequer um Genésio. No Acre fui conhecer logo dois de uma vez.

O menino de apenas 13 anos presenciou o crime e, em uma terra onde se morria por pouco, teve coragem suficiente para denunciar os envolvidos e ainda testemunhar no tribunal, diante de todos. O detalhe. O mandante Darly Alves da Silva e o assassino, seu filho Darci, ambos condenados pelo júri, eram os donos da fazenda onde o piá morava.

Zuenir ficou com uma impressão fortíssima do garoto de cabelos oxigenados e poucas palavras.

– Ele dizia apenas o suficiente, não mais que isso.

O envolvimento de Zuenir com o caso Chico Mendes foi tanto que ele chegou a se tornar tutor do adolescente Genésio. Em Xapurí, o adolescente corria risco constante de vida. A Justiça então decidiu transferi-lo para Rio Branco, sob a tutela de um policial militar. “Muito curioso, o sujeito era discípulo de Ghandi”. Logo um plano para matá-lo foi descoberto.

Veio então a idéia de colocar a testemunha sob tutela do jornalista, que prontamente aceitou. Foi assim que o piá de cabelos oxigenados finalmente foi morar na praia, no Rio de Janeiro.


– Esse foi o único ponto em que acho que falhei.

Genésio, o adolescente, nunca superou bem o trauma. Hoje ele é um homem. Já perambulou por todo o país, mas não pára em lugar algum. Apesar do apoio do jornalista, ele não se ajustou depois daquilo.

***


Mais descontraído, Zuenir volta a brincar com a coincidência dos nomes da testemunha e advogado. Genésio lembra do susto que levou quando conheceu seu xará. O pensamento volta aos amigos de Acre. Adair Longuini, Raimundo Barros, Gilson Pescador. Júlio Barbosa. “Ah Genésio, o Júlio Barbosa você não faz idéia...”

O barqueiro Júlio Barbosa que levava Zuenir e Genésio pelos rios da Amazônia é agora o prefeito de Xapurí. E está no segundo mandato.

Zuenir sabia tantas novidades porque em outubro de 2003 voltou ao Acre. Buscava um desfecho para a série de reportagens O Acre de Chico Mendes, que seria publicada em livro: Chico Mendes: Crime e Castigo.

Projeto Canción

Foi numa noite de inverno que vi o Thiago e a Michele pela última vez. Passaram aqui em casa se despedir. Trouxeram vinho. Sentamos ao redor da mesa e conversamos. Os dois estavam excitados. Partiriam em dois dias para uma viagem de mochilão pela América Latina.


Antes de partirem, dei a eles uma velha lente teleobjetiva para a camara fotográfica e um gnomo da sorte, para protegê-los na jornada.

E Tome América Latina

“Ainda não contei de Córdoba. No momento em que estávamos chegando comentei com o Thiago: "essa cidade tem um ar de Curitiba". Mas a primeira impressão nem sempre fica. Córdoba é Córdoba. Foi lá que tivemos mais sucesso no nosso "empreendimento"... Eu vendi um par de malabares.

O Thiago se deu melhor ainda: estava fazendo suas apresentações nos semáforos, quando foi chamado para ir à uma festa, fazer malabares por umas duas horas por 40 pesos. Eu fui junto, inclusive me apresentei também. Foi bem engraçado. Era uma festa para menores de idade, em uma boate. Uma piazada de 15/16 anos se esforçando para aparentar 20. As meninas superproduzidas, com micro-saias e tops, os meninos de calça larga, boné e cigarro na mão. Músicas horríveis a noite inteira, mas como ainda não nos alimentamos de luz e nem sempre conseguimos carona, a grana é necessária. Ossos do ofício.


Ficamos num hostel cujo dono vivia lá mesmo. Ele dormia nos quartos para seis pessoas, junto com os hóspedes. Trabalhou em outros hostels antes e me disse que eram muito "estilo empresa". Ele não, prefere receber os mochileiros na sua casa, um ambiente informal e aconchegante. A idéia é bem legal, mas o problema é que algumas pessoas passam o dia inteiro dentro do hostel. Não entendo porque viajar para outro país e ficar trancado em um albergue. Havia um computador com internet disponível, mas eu dificilmente conseguia usar, sempre tinha alguém.

Depois de uns dias queríamos encontrar outro lugar para ficar, onde pagássemos menos e tivéssemos mais espaço para ficar tranqüilos. A essa altura, o hostel estava totalmente lotado, sem condições.

Um dia eu e o Thiago nos desencontramos, caminhamos separados pela cidade. Ele viu um cara tocando flauta, tirou uma foto, perguntou quanto custavam as flautas e assim foram conversando.


O nome dele era Kike e fazia uns cinco anos que estava viajando; já pensava em voltar para o Equador, sua terra natal. Ele conseguiu que nós ficássemos na casa que ele alugava. Teríamos que pagar dez pesos diários por pessoa. Mais barato que o albergue. Era um moquifo, não tinha uma panela limpa, mas para ficar só dois dias tudo bem. Na verdade queríamos ter deixado Córdoba na sexta-feira, mas descobrimos que o trem para Buenos Aires só sairia no domingo. Passamos esses dias não planejados na casa de Kike.

A viagem de Córdoba a Buenos Aires de trem foi uma decepção. Pensávamos que iríamos ver lindas paisagens pela janela, como nos filmes. Até poderia ter sido, se a viagem não fosse praticamente toda à noite. Mesmo assim um fato interessante – na saída de Córdoba passamos por "villas", as favelas argentinas. Chegou um dado momento em que tivemos que fechar as janelas do trem, porque as pessoas jogavam pedras.

Última parada: neve!

Bom, de Córdoba fomos para Buenos Aires, depois seguimos pedindo carona em direção ao Chile, com a intenção de parar na parte argentina da Cordilheira dos Andes e conhecer a neve. Fomos parar em Puente del Inca, uma cidadezinha povoada por uma base do exército e comerciantes, que recebem diariamente às várias excursões de turismo que passam pela cidade.

Mas nem todo esse clima turístico, incluindo os preços altos, puderam abalar nossa alegria. Voltamos a ser crianças. Ficamos só dois dias, cercados de lindas paisagens – uma curiosa e singular mistura de vegetação semi-desértica dos Andes e neve, e seguimos rumo a Valparaíso, no Chile.

Ao fim de nossa passagem pela Argentina, apesar de ser difícil colocar toda uma nação em um mesmo saco, poderia definir os argentinos com duas palavras: loucos e apaixonados. Acho que essa rivalidade com os argentinos é porque eles têm uma personalidade muito forte, "personalidade demais", para alguns.

"É que o argentino tem muito amor próprio", me disse Beto, o senhor de Junin. Pode ser. Mas pensando bem, encontrei uma terceira característica para os argentinos: loucos, apaixonados e apaixonantes”.

Textos e Fotos: Michele Torinelli.

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